terça-feira, 22 de setembro de 2009

RELEASE

Vinho, prazer e mito

Foto: Danilo Canguçu

O universo mítico de Dionísio será evocado no espetáculo BAKXAI - sobre As Bacantes, do Alvenaria de Teatro, dirigido por Daniel Guerra, a partir da tragédia clássica de Eurípides. A montagem estréia nesta primavera, dia 05 de outubro, às 20 horas, na Casa D’Itália (Largo dos Aflitos – Centro), que pela primeira vez abre suas portas para apresentação de uma peça de teatro. O trabalho é fruto de sete meses de ensaio e de um ano e meio de pesquisa grupal.

O espetáculo BAKXAI - sobre As Bacantes, além de marcar a estréia do grupo, está também vinculado à Universidade Federal da Bahia tratando-se da conclusão de graduação em direção teatral de Daniel Guerra, membro do grupo e diretor da montagem.

O grupo
O Alvenaria de Teatro foi criado há um ano e meio por alunos e egressos da Escola de Teatro da UFBA, que vêm trabalhando sistematicamente e desenvolvendo pesquisa em artes cênicas, com residência artística no IFBA, antigo CEFET (Escola Técnica). O grupo é composto por uma equipe de dois diretores- Daniel Guerra e Lucas Modesto- e oito atores- Camilla Sarno, Felipe Benevides, Laura Franco, Liliana Matos, Lílith Marques, Ludmila Brandão, Raiça Bomfim e Thor Vaz. O espetáculo conta com a participação dos oito atores do grupo e André Rosa, como ator convidado.

Referências
Partindo de estudos sobre técnicas de mímica corporal, yoga, acrobacia, biomecânica, ações físicas etc, e tendo como inspiração e referência autores como Grotowski, Barba, Artaud, Nietzsche, Boff, Cecília Meirelles, entre outros, o grupo se empenhou numa rotina diária de treinamento e reflexão. Após um processo de intensa investigação sobre o artesanato teatral, é trazido finalmente à cena, como resultado desse estudo, o universo de Baco, adentrando a construção da liturgia desse deus que representa o teatro, o prazer, o vinho e a orgia. Além do clássico de Eurípides, um amálgama de referências e textos de autores como Baudelaire, Rimbaud, Marcel Detienne, Fernando Pessoa e Cruz e Souza servem a essa trama dionisíaca.

O rito
O rito ao deus que inicia as mulheres em seus mistérios através do delírio, da ludicidade e do gozo, marca, pois, a estréia do grupo no cenário teatral da cidade. Em Baco, as mulheres fincam suas esperanças e nele depositam todo o seu potencial criador. O coro de mulheres, aqui, passa a ser o foco central da narrativa e é por meio de seus atos e delírios que o embate entre Dionísio e Penteu é desvelado. Progressivamente, a Tebas encarnada no salão da tradicional da Casa D’Itália vai se tornando palco das mais estranhas alegorias. Junções de projeções coletivas, as imagens corporificadas pelas mulheres ganham vida e começam a agir por conta própria, num desenlace surpreendente. A narrativa da peça é permeada pelas relações entre sagrado e profano, fé e necessidade, repressão e rebeldia, ordem e caos.

A encenação
Daniel Guerra, diretor da montagem, comenta que “BAKXAI se utiliza do universo de As Bacantes para sintetizar uma poética própria, mas fiel ao conjunto imagético proposto pelo texto. Eu entendo que um texto – ainda mais em se tratando de uma obra milenar – só pode ser considerado vivo, se tiver seu conjunto de signos encarnados em corpos atuais, que contraponham e reinterpretem signos milenares a partir de suas próprias vivências cotidianas. Este corpus pulsante é o corpo de criação do Alvenaria de Teatro. Juntos, propomos, através de treinamento, leituras e improvisações, diálogos com o texto, e assimilamos as imagens que eles nos oferece experimentando-as em sala de ensaio”. Ele explica que o texto foi adaptado a partir dos fluxos individuais, das relações tecidas a partir dos atores e seus corpos. “Optamos por encarnar o espírito dionisíaco no sentido da libertação criativa. Vivemos juntos há algum tempo debaixo do olhar do deus da loucura (numa balsa de loucos, à deriva) e o mito nos chegou em forma de vivência grupal” acrescenta.

As Bacantes
O clássico grego As Bacantes, de Eurípides, relata a passagem fulminante de Baco, também chamado de Dionísio, por Tebas. O deus chega à cidade grega, acompanhado pelo seu cortejo de bacantes, exigindo dos cidadãos tebanos suas devidas homenagens e libações. Tomadas pelo delírio dionisíaco, as mulheres gregas abandonam seus lares e afazeres para juntar-se ao cortejo, na sagração do deus. Contrariamente a essa força caótica, encontra-se Penteu, rei de Tebas, que questiona a divindade e os ritos dionisíacos, perseguindo o deus e seu séquito. O conflito daí resultante, entre o deus estrangeiro e a casa reinante que o considera uma força subversiva aos costumes, é o âmago dessa tragédia.

Nascido em 480 a.C., perto de Atenas, Eurípides é um dos três grandes expoentes da tragédia grega e provavelmente o mais popular nos nossos tempos. A tragédia de Eurípides, além de compor um dos marcos da cultura grega, berço de nossa cultura ocidental, devassa a alma humana e seus conflitos, delineando arquétipos que persistem em nossa sociedade. O homem é posto nu frente ao destino e essa característica profundamente humana imprime na obra um caráter atemporal e, portanto, absolutamente atual.

Casa D’Itália
Para este encontro de mundos, o espetáculo precisava ambientar-se em um amplo salão que acolhesse o público num ambiente intimista, familiar. Daí a escolha em situar a peça na Casa D’Itália, casarão tradicional localizado no centro histórico da cidade, que reforça o espírito de história, memória, vida, cotidiano e intimidade da encenação.

O espetáculo fica em cartaz todas as segundas, terças e quartas de outubro - com exceção da segunda semana (dias 12, 13 e 14)-, sempre às 20h. A Casa D’Itália possui estacionamento privativo e a Cantina funcionará em todos os dias de espetáculo.

Deméter nos dê boa colheita a todos. Evoé!

3 comentários:

  1. MERDA!!!!! Estou torcendo pra que dê tudo certo na estreia e divulgando o blog!

    Bruna Scavuzzi

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  2. Merda!!! pena que estou tão longe...mas o mar que lambe ai lambe aqui...se por ai estivesse ficaria ébrio de vocês.
    carlos weiner

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